Francisco Albano Boscatto

"Há duas coisas infinitas: o Universo e a tolice dos homens."

Meu Diário
23/02/2008 22h59
MEMÓRIAS DE UM NETO DE IMIGRANTES ITALIANOS...

Os namoros até o princípio do século



            Até o princípio do século, os namoros geralmente eram ajustados pelos pais dos futuros namorados, que passavam a sofrer insinuações dos progenitores de ambos os lados. Para as filhas, especialmente quando eram bonitas, alegavam certas vantagens financeiras do noivo, a qual poderia usufruir. E assim acontece também hoje em dia, com os mais atrasados.

            Os namorados, então, começavam a se olhar com um vago sorriso, ambos já sabendo do conchavo dos pais. Desta forma, iam chegando muito timidamente um para o outro, entabulando a primeira conversa entre si, geralmente sobre interesses financeiros. Alguns poucos, porém – os mais afoitos -, não queriam a intervenção paterna em seus namoros e tinham a iniciativa própria, sem levarem em conta os interesses financeiros. Contrariando a vontade dos pais, foram os mais felizes.

            Os sentimentos amorosos – um pelo outro –demonstrados através de olhares de moços e moças, nas diversas épocas, receberam as denominações seguintes: De 1900 até 1928, a troca de olhares era denominada ‘foguetear’, ou seja, fulano está de ‘foguete’ com beltrana: de 1929 até 1950, a troca de olhares entre namorados era denominada ‘linhar’, ou seja, fulano e beltrana estão de ‘linha’, ou, ‘linhando’; de 1951, aproximadamente, até 1969, os olhares entre os namorados denominavam-se ‘flertar’, ou seja, fulana está de ‘flerte’, ou ‘flertando’ com beltrano e, finalmente, de 1970 até os dias atuais, a mencionada troca de olhares entre moços e moças é denominada de ‘paquera’, ou seja, fulano está de ‘paquera’, ou ‘paquerando’ beltrana. Isto não vai durar muito, porque os mais moços, com toda a certeza, vão mudar a designação, achando a ‘paquera’ muito antiquada e arcaica. Assim fez minha geração com o ‘foguetear’, passando para ‘linhar’.

          
     
Nos primeiros tempos da colonização – até 1950, aproximadamente – não era permitido namoro de mãos dadas como acontece atualmente. Só na hora da despedida, após o namoro, na presença de pelo menos um dos familiares da namorada é que permitiam o aperto de mão da moça, sempre de iniciativa do namorado. Este ato, porém, não podia ser muito prolongado. Alguns mais atrevidos, entretanto, apertavam com mais força e, com o dedo indicador, faziam pequenas carícias na mão dela.

            O beijo, na presença dos familiares da namorada, estava estritamente proibido. Era tido como grande ofensa à família da moça, porém, raramente isto acontecia. Os mais atrevidos, no entanto, quando conseguiam um pequeno espaço de tempo para ficarem a sós – sem os fiscais da família – roubavam algum beijo. Nem mesmo o beijo nupcial, que há duas décadas – mais ou menos – é dado após a cerimônia do casamento religioso tinha permissão. Os padres o achavam indecoroso dentro da igreja, e nem fora dela isto acontecia. Ele somente ocorria no ‘enfim sós’...

            Os namorados eram sempre fiscalizados, disfarçadamente, por um membro da família da moça. Os beijos, roubados se davam somente quando o encarregado da fiscalização se descuidava ou ia até a cozinha buscar alguma bebida ou doces para os namorados. Até mesmo nos passeios pela praça, ou em festas de igreja, os namorados eram sempre acompanhados por um membro da família. Também no cinema isto acontecia. O acompanhante, então, não tirava os olhos de cima das mãos dos namorados.

            As moças usavam calcinhas bastante compridas e com um elástico bem apertado nas aberturas, aonde iam às pernas, para evitar a bolinagem, muito em voga atualmente. Por incrível que pareça, hoje em dia acontecem menos descalabros sexuais do que outrora. Talvez seja porque o que é proibido torna-se mais atraente e desejado, como ficou sobejamente provado com a proibição feita por Deus no ‘paraíso terrestre’.

            No interior do município, o namorado visitava a namorada somente aos domingos, ou no dia de festa do padroeiro do local. Quando morava longe, nunca pernoitava na casa da pretendida, porque achavam que não ficava bem, e o povo poderia falar da honra da moça. Por isso, o namorado pernoitava numa pensão ou num hotel que havia nos travessões, pernoitava em casa de algum parente da namorada, o qual era reembolsado das despesas pelo pai desta.

            Na vila – após cidade de Nova Trento ou Flores da Cunha -, o namorado visitava a namorada na quarta-feira e nos sábados, à noite, das 20h às 22h30min. Ia também aos domingos, toda a tarde e após o jantar, no mesmo horário noturno citado.


 

 


 


Publicado por Francisco Albano Boscatto em 23/02/2008 às 22h59

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