16/02/2008 16h23
MEMÓRIAS DE UM NETO DE IMIGRANTES ITALIANOS...
Estes dados foram retirados do Livro escrito por meu falecido Pai Claudino Antonio Boscatto - "Memórias de um Neto de Imigrantes Italianos"
Dados e notas sobre os antepassados
Meu avô paterno - alfaiate - já era casado e tinha uma filha quando veio para o Brasil, levado por impulso aventureiro, já meu avô materno - agricultor - tomou a decisão de vir para o Brasil por necessidade de sobrevivência. Buscava, aqui, uma vida melhor e mais rendosa no amanho e plantio da terra. E isso ocorreu com a maioria dos imigrantes. Meu avô materno era casado em segundas núpcias e veio para o Brasil com um filho de 11 anos, do 1º casamento, mais a segunda esposa e dois filhos de poucos meses de idade, que faleceram, aqui, após a chegada.
A maioria dos imigrantes eram agricultores que, embora um tanto jovens, já eram casados. Alguns deles, inclusive, já tinham filhos menores. Outros colonizadores vieram ainda solteiros, com os pais e familiares. Por esta razão, vários casamentos foram realizados logo após a chegada.
Meu avô paterno adquiriu – por título definitivo – um lote rural no Travessão Riachuelo; o materno – adquiriu da mesma forma – ficou com um lote rural no Travessão Aquidabam. Quatro anos depois, eles mudaram-se para o povoado denominado São Pedro, no qual adquiriram lotes urbanos. Entretanto, meus avôs conservaram em seu poder os lotes rurais, nos quais trabalhavam no amanho e plantio da terra, tirando dele grande parte de seu sustento. (Alguns anos após a mudança, o povoado de São Pedro passou a denominar-se Nova Trento.)
Muitos outros imigrantes procederam da mesma maneira que meus avôs, isto é, mantiveram os lotes rurais para complementar seus sustento – ocupando parte de seu tempo nas lidas agrícolas – e adquiriram lotes urbanos para se estabelecerem na vila, com pequenas casas de comércio, indústrias de pequeno porte e outros ramos de profissões liberais.
As viagens dos imigrantes, até aqui, consistiam de aventuras tremendas. Das diversas partes do norte da Itália, seguiam para o porto de Genova, onde embarcavam em navios a vapor, após obterem os vistos em seus passaportes. Estes navios eram bastante primitivos e vagarosos, demorando muito no trajeto até o Rio de Janeiro. Na Ilha das Flores, RJ, após 30 dias de viagem, aproximadamente, eles eram vacinados contra doenças endêmicas; depois da “quarentena”, seguiam até a cidade de Rio Grande, neste estado. De Rio Grande, num navio menor, vinham até Porto Alegre, onde tomavam pequenas embarcações e seguiam até São Sebastião do Caí. Daquele município, a pé, carregando inúmeros pertences e “trens” de casa e cozinha, vinham até o Campo dos Bugres – hoje Caxias do Sul -, onde havia um barracão para abrigar os imigrantes por diversos dias. Dos barracões, cada qual seguia - novamente a pé – até o lote rural que lhe havia sido destinado.
Muitas crianças e adultos – os mais debilitados – morreram naquelas longas viagens, por falta de recursos médicos. Seus cadáveres eram jogados ao mar ou em rios. Lembrando os filmes norte-americanos, também, muitos ficaram pela beira da estrada, onde eram cavadas pequenas covas, utilizadas para enterrar os falecidos. Os locais eram assinalados por pequenas cruzes rústicas.
Na viagem, a alimentação principal consistia de biscoitos salgados, que eram molhados em água para melhor degluti-los. Embora enfrentassem a penosa viagem, os imigrantes não perdiam o ânimo e entoavam cantigas folclóricas, especialmente quando passavam pela linha do Equador. Ali, eles comemoravam com danças e canções especiais, tudo para levantar o moral.
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Publicado por Francisco Albano Boscatto em 16/02/2008 às 16h23
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